terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Um canal de TV.


Meus defeitos são muitos e, a essa altura do campeonato, vocês já devem conhecer todos. Os reais e os inventados por terceiros. Então, peço licença para papaguear meu real (talvez único) talento: quando se trata do controle remoto da TV, sou rápida. O gatilho mais rápido do oeste!
Sou capaz de acompanhar, ao mesmo tempo, filmes, jogos e noticiários. Vários deles. Ok, talvez não seja tão difícil: os filmes, com variações superficiais, contam quase sempre a mesma história. O mesmo vale para noticiários e jogos.
 Zapear é minha forma favorita de não pensar em nada. Com o tempo descobri que esta experiência, para mim tão tranquilizadora, pode levar à loucura quem queira assistir TV ao meu lado. Minha performance zapeando foi dificultada pela chegada da NET digital. Nela, rola um gap entre a saída de um canal e a sintonia do próximo. Fração de segundos que parece uma eternidade para meus dedos aflitos. No equipamento analógico não era assim. Engana-se quem pensa que as coisas só melhoram com novos sistemas operacionais.
Duas são as consequência mais imediatas desse apertar frenético de botões: (1) sou obrigado a trocar as pilhas do controle remoto com muita frequência e (2) fragmentos de imagens e frases sem aparente conexão ficam reverberando na minha cabeça muito depois que desligo a TV. Irradiação Fóssil.
Numa dessas, fiquei sabendo que dá pra comprar cheiro de grama recém cortada. Num programa sobre automóveis luxuosos, um designer italiano borrifava o aroma no seu escritório enquanto alardeava como o cheiro lhe trazia inspiração.
A TV já estava em outro canal e eu ainda especulava se o tal cheiro de grama cortada tem valor em si  mesmo ou se sua força reside em trazer à lembrança a grama outrora cortada. O tal perfume causa o mesmo efeito para quem nunca sentiu o cheiro que o corte da grama libera na vida real? Tem valor absoluto ou só como disparador de lembranças? Prazer inato ou gosto adquirido?
Quando dei por mim, já havia flanado por outros canais. Saí do design de carros esportivos para entrar no Reino Unido da FIFA, corporação cujos tentáculos fazem a ONU parecer coisa de criança: 
Da matemática futebolística ao amor-I-love-you dos filmes, novelas e canções num clicar de botão:
Ah, o amor! Acredito nele. Na sua forma mais pessoal e direta (eu e tu, olho no olho - que, por incrível que pareça, até pode nos amesquinhar) ou na forma mais abstrata (com todas as letras douradas e maiúsculas: amar a vida, nossos semelhantes, os animais... amar os raio de sol da manhã e do anoitecer... e a lua... e as nuvens que porventura esconderem os dois - o sentimento que afinaria todos os instrumentos e colocaria o mundo em harmonia, com trilha sonora de anjos tocando harpa).
 Mas, quer saber? Às vezes acho que o amor atrapalha. Ops, vou refazer a frase pra clarear: acho que, às vezes, falar muito nele e esperar muito dele atrapalha. Há situações em que bastaria um pouco de respeito e gentileza. Utopias podem se transformar em desculpas para a inação, tipo: já que não rola tudo, não quero nada. Uma inversão cruel de perspectiva. Quase uma cegueira.
Se falo isso do amor, dá pra imaginar o que eu falaria a respeito do ódio... mas raramente passo por esse canal.

FIM..

Nenhum comentário:

Postar um comentário